Finanças Pessoais

Aposentadoria – como será a sua?

Ricardo havia sido bom aluno na escola. Mas, ao completar 18 anos, como a maioria dos jovens de sua idade, tinha a responsabilidade de tomar a decisão sobre qual carreira a seguir. Era a hora de fazer o vestibular. Ele sabia que este momento era, de certa forma, crucial, porque envolvia a decisão sobre o que ele iria fazer pelo resto de sua vida.

Durante sua vida escolar, até este momento, Ricardo vinha tentando detectar quais suas aptidões, seus pontos fortes, ou seja, elementos necessários que o ajudassem a decidir qual carreira abraçaria. Ele havia notado um certo gosto pelo ensino, fato que inclusive o levou a ser monitor em algumas disciplinas durante o ensino médio. Mas, no mundo real, Ricardo sabia que a profissão de professor não era nem um pouco valorizada.

Ricardo corriqueiramente lia jornais, artigos sobre vida profissional, e aos poucos foi concluindo que a profissão certa a seguir era a de analista de sistemas. Era uma profissão muito requisitada na época, pois havia falta de profissionais. Além do mais, ele queria subir rapidamente na profissão, ter uma vida financeiramente tranqüila. Não havia dúvida. A decisão estava tomada.

Seu curso superior foi cheio de altos e baixos, mas, ao final de 5 anos, lá estava ele formado e pronto para desempenhar seu papel na sociedade. Ele teve uma ascensão relativamente rápida nas empresas por onde passou, porém, no fundo, a ficha começava a cair e, dia a dia ele perdia a paixão pela profissão, se é que verdadeiramente a teve em algum momento. Ele ansiava pela aposentadoria, o que, segundo ele próprio achava, seria a porta para a entrada na boa vida, pela qual tanto ansiou.

O dia chegou, Ricardo agora estava aposentado. Ele havia acumulado um bom patrimônio e recursos suficientes para não necessitar trabalhar mais pelo resto da vida. Ainda estava na faixa dos cinqüenta quando pendurou as chuteiras e agora só pensava em viajar, jogar com os amigos e coisas do tipo.

Os primeiros seis meses passaram rapidamente. Muitas viagens, muito lazer, muitas novas amizades. Aos poucos, no entanto, Ricardo começava a se entediar desta vida sem muitas responsabilidades. Agora, os dias pareciam ter mais que 24 horas e as horas, por sua vez, mais de 60 minutos.

Certo dia, Ricardo foi convidado por um amigo a participar de um projeto que visava o  ensino de pessoas da terceira idade. A idéia não lhe pareceu lá muito animadora, mas, como não estava fazendo nada mesmo, topou. O local era relativamente simples e as pessoas também. Eram em sua maioria moradores de baixa renda, com muita pouca instrução, analfabetos ou que apenas sabiam assinar, com muita dificuldade, seus próprios nomes.

Acostumado ao ambiente de classe média em que sempre viveu, foi com certa resignação que Ricardo começou e investir seu tempo na vida daquelas pessoas com as quais nunca havia imaginado que um dia iria lidar. Tendo sido uma pessoa altamente instruída, ensinar as primeiras letras a estas pessoas parecia não fazer muito sentido para ele.

À medida que as semanas passavam, no entanto, Ricardo pode ver o progresso constante e paulatino daquelas senhoras e senhores que nunca pensaram que teriam a oportunidade de um dia ler ou escrever qualquer palavra que fosse. Agora, ele estava mais entusiasmado que nunca. Gastava horas e horas se dedicando ao projeto. A seu favor, ele tinha o fato de não necessitar trabalhar para ganhar seu sustento. Logo, podia dedicar-se em tempo integral à sua tarefa.

Quando a primeira turma se formou, Ricardo mal podia conter as lágrimas ao ver e ouvir aquelas mães e pais lendo os textos escolhidos para aquela data tão especial. Seu coração palpitava, não cabia mais em si mesmo. Ao longo dos poucos momentos daquela formatura, mil novos projetos explodiam na cabeça de Ricardo, num brainstorming natural que ele jamais havia experimentado.

Saiu dali decidido. Vou me aposentar da minha aposentadoria, por que afinal de contas, pensava consigo, o que é a vida, senão uma doação constante a nós mesmos e a outras pessoas? Finalmente, Ricardo estava recuperando o tempo e a paixão pelo ensino, que havia relegado a um segundo plano. Agora, ele comentava com seus amigos:

– Eu acho que quem inventou a aposentadoria nunca foi apaixonado pelas pessoas.

Então. Ainda é tempo para recomeçar!

Sucesso!

 

FONTE: Paulo de Tarso 

 

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