Santo bom humor
Coisa mais gostosa é dar aquela gargalhada! Rir de algo engraçado, seja lá o que for – uma cena hilária de um filme de comédia, um ‘meme’ que reproduz aquele hábito que você pensava que só você tinha, uma boa piada contada pelo palhaço da turma… Ah, como é bom! Acho que rir até doer a barriga pode muito bem ser listado entre os maiores prazeres da vida nessa Terra, disputando acirradamente o pódio com comer, dormir e o que você achar que pode figurar na lista.
No entanto, apesar da minha forte convicção a respeito do assunto, presenciei alguns episódios que me fizeram cogitar no que as pessoas realmente entendem como alegria e espiritualidade dentro da igreja. É certo que aceitamos a máxima “a alegria do Senhor é a nossa força”, mas será que a compreendemos? Melhor, será que vivemos?
Tenho a impressão de que, para muitas pessoas, evangelho e bom humor não combinam. Elas desassociaram ambos os conceitos de forma radical, assim que confessaram sua fé no salvador Jesus. “Oh, agora que sou uma nova criatura, preciso ser uma pessoa séria, compenetrada, espiritual, e não posso perder tempo com brincadeirinhas!”, pensam, embora nem sempre falem.
É fato que o cristão deve ser alguém sério, no sentido de que deve ser confiável, mantenedor de sua palavra, firme nos seus princípios. O dicionário define seriedade como “integridade de caráter”, e não a relaciona de nenhuma forma ao humor que cultivamos.
Fiquei meditando a respeito disso, e acho que há um ranço religioso que permanece em alguns de nós, impedindo-nos de desfrutar da liberdade que há na alegria de Cristo. Sinceramente, acho que temos lido muitas biografias de homens e mulheres de Deus, que contam seus maravilhosos feitos, e temos interpretado mal seus exemplos. Eram bravos guerreiros da fé, sim, ultra consagrados, que levantavam paralíticos, curavam cegos, surdos, mudos, cardíacos e toda mazela que alguém pudesse apresentar. Mas eu penso, particularmente, que temos imaginado (pelo pouco que sabemos dos seus ministérios), que estes(as) pregadores(as) por certo eram seres etéreos que vagavam pelo mundo com seus meio-sorrisos plácidos, que emanavam uma paz infinda e uma inefável unção, 24 horas por dia.
Penso que talvez a imagem dos seus ministérios tenha ficado tão forte nas nossas memórias, que provavelmente ignoramos que eles tinham uma vida pós-púlpito – casa, família, filhos, momentos de trabalhos domésticos e de lazer – e não necessariamente viviam carrancudos profetizando e derrubando pessoas na unção o tempo todo.
Sim, nós queremos imitá-los. Mas, ora, quem não quer ser usado por Deus? E quem não quer levantar paralíticos, ressuscitar mortos, ver o poder de Deus em manifestação, afinal? Então, na nossa imaginação, a maneira de fazer isso (ou de parecer isso) talvez seja tentando manifestar a serenidade inabalável que lhes é atribuída como selo de uma vida consagrada a Deus! Na tentativa de parecermos mais “espirituais”, então, encenamos uma “paz” no falar, ensaiamos aquele “olhar de profeta”, usamos o nosso melhor “evangeliquês” e rejeitamos as brincadeiras como forma de diversão. “Como sou maduro, ministro ou aspirante a pregador(a), devo manter a compostura”. Quanta bobagem!
Não me entenda mal, por favor! Não estou fazendo campanha pró-meninices e brincadeiras de mal gosto, muito menos maliciosas. Nós devemos sim, ser seletivos acerca das brincadeiras em que nos envolvemos – e muito! Sou a favor, entretanto, de um santo bom humor!
Devemos aprender a rir, e rir bastante!
Peço licença para “abrir um parêntese” e explicar que não estou falando daquele riso “pela fé” – o espiritual. Não estou falando de começar a rir no meio da adversidade, quando se está com vontade de chorar pela tribulação ou enfermidade que se apresenta no momento. Este também tem o seu lugar, e também é maravilhoso! Já pensou – você decidir rir pela fé na Palavra de Deus e, no processo, ser curado, liberto, receber um livramento? É bom demais! Mas não é disto que eu estou falando (pelo menos nesse post).
Estou falando de rir de graça! Rir de si mesmo. Rir dos seus amigos. Rir de piadas. Rir da vida, do cachorro, do vídeo no youtube, da foto ridícula no Instagram, do comentário idiota que alguém fez na timeline, do cabelo da sua irmã, da queda que você levou, da gracinha que o bebezinho fez… Rir, só por rir. Gargalhar, na verdade. E ser “gaiato” às vezes, brincar mesmo, conversar alegremente… A vida fica mais leve quando você se diverte.
Acho que Jesus sabia bem o que era isso. Não consigo pensar nele como um desses etéreos que descrevi. E não venha me dizer que ele saía de cidade em cidade como se levitasse, ensimesmado, sem dizer uma palavra a nenhum dos que o acompanhavam, para que pudesse conservar sua unção e santidade intactas. Não mesmo! A Bíblia mostra-nos um Jesus que se sentava nas mesas de pessoas que não conhecia, comia e bebia conversando com todos, compartilhando daquilo que possuía, inclusive o seu bom humor.
Não acho que ele perdia tempo com futilidades, mas certamente dava suas boas risadas e levava a vida com muita alegria, afinal, ela é fruto do espírito recriado, e ele indiscutivelmente a tinha de sobra.
Taí, um bom exemplo pra ser imitado por todos nós!
“Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se!” (Filipenses 4.4)
por Luciana Honorata
Fonte: Guia-me / IBB news