“Os reformadores entenderam que o povo precisa da Palavra de Deus”, diz teólogo
O teólogo britânico Michael Reeves destacou a importância da ousadia dos reformadores em voltar a pregar a essência do Evangelho.
A Reforma Protestante começou há 500 anos, quando Martinho Lutero pregou suas 95 Teses na porta da igreja católica, em Wittenberg (Alemanha). O que foi recuperado nos anos seguintes não era apenas uma doutrina bíblica sobre a salvação, mas também uma abordagem mais saudável sobre a pregação da Bíblia para as pessoas.
De acordo com Michael Reeves, presidente da Escola de Teologia Union (Reino Unido), os primeiros reformistas viram que “o que as pessoas precisam é a Palavra de Deus, que afasta a escuridão e traz vida”.
“Com a Reforma Protestante, a Bíblia foi disponibilizada na língua que as pessoas podiam falar”, explicou Reeves em uma entrevista durante o Fórum Europeu de Liderança em Wisla (Polônia). Logo depois disso, “gerações de pregadores se levantaram, proclamando o Evangelho de Cristo ousadamente nas igrejas de uma maneira nunca vista nos séculos anteriores da Idade Média”.
Reeves ressalta que “a Reforma mudou o conteúdo da pregação da exortação sobre simplesmente ‘tentar mais’ para ‘ver Jesus Cristo em toda a Sua bondade, em tudo o que Ele fez por você, e quando você o ver, sua vida será completamente transformada”.
“Lutero viu que as pessoas precisam ouvir sobre a graça e a glória de Cristo, porque elas anseiam não só mudar seu comportamento, mas também estão começando a amar mais a Jesus do que o pecado”, conclui.
Confira abaixo a entrevista completa:
O que os Reformadores acreditavam sobre o poder da pregação?
Antes da Reforma, a pregação realmente teve algo parecido com o tipo de papel que a Reforma deu, porque se supunha que pessoas simples e sem educação, que não podiam ler, não poderiam entender as complexidades do texto das Escrituras. O que foi dado a pessoas comuns na época foram imagens de histórias bíblicas, estátuas.
O idioma usado nas igrejas era o latim, o qual não podiam entender. E o que se pensava que as pessoas precisavam era simplesmente: algo como “venha à igreja, você recebe os sacramentos, vê algumas fotos que podem ajudá-lo a entender o mundo cristão em que você habita, mas se você não entender essas coisas, está tudo bem”.
Os Reformadores entenderam que era preciso dar às pessoas sem educação, sem formação, uma idéia básica sobre o cristianismo, mas que elas também precisavam da Palavra de Deus, que afasta a escuridão, traz a vida, traz a criação para um novo ser criativo. Isso é o que as pessoas precisam. A Bíblia na Reforma estava disponível no idioma que as pessoas podiam falar.
Primeiro em alemão, depois em inglês, em vários idiomas em toda a Europa. As pessoas começaram a pregar, porque viram que é a Palavra de Deus que liberta os cativos, os desperta da morte, vence as trevas e essa é a necessidade humana fundamental: trazer o conhecimento da luz da glória de Deus diante de Jesus Cristo à vida das pessoas. Não simplesmente pequenas mensagens, não simplesmente uma “ajuda”, mas a Palavra de Deus é o que trará a vida.
Os Reformadores de repente tinham uma visão muito forte sobre pregação e viram que o que as pessoas precisam, é precisam ouvir a Palavra de Deus para ser aplicada em suas vidas. Isso foi inovador para a época. Nos séculos XVI e XVII, viu-se gerações de pregadores sendo criadas, que proclamavam ousadamente nas igrejas o Evangelho de Cristo de uma maneira nunca vista nos séculos anteriores da Idade Média.
Como a Reforma mudou nossa visão do conteúdo da pregação?
Para entender como a Reforma mudou o conteúdo da pregação, precisamos entender o quão diferente os Reformadores viram a necessidade humana. No catolicismo medieval, pensava-se que nosso problema básico era: ‘somos preguiçosos e precisamos de alguma graça para nos dinamizar’. A graça divina é como uma injeção de ânimo que encoraja as pessoas.
Os reformadores viram que as pessoas são indefesas em seus pecados, são adeptas desesperadas e escravas do pecado, e eles precisam ouvir sobre Jesus Cristo, para que seus corações se voltem para amar a Deus, e então eles viverão de maneira diferente. A Reforma mudou o conteúdo da pregação da exortação sobre “simplesmente se esforçar mais”, para: “Veja Jesus Cristo em toda a Sua bondade, em tudo o que Ele fez por você, e quando você O ver, sua vida será completamente transformada”.
O que podemos aprender dos Reformadores sobre o objetivo da pregação?
Houve um debate entre um Reformador e um Humanista sobre a forma como os humanos trabalham, que realmente explica como os reformadores entenderam o objetivo da pregação. O debate foi entre o Reformador Lutero e o Humanista Erasmus. Erasmus acreditava que nosso problema básico era bastante superficial.
Nós somos preguiçosos e precisamos tentar mais e, se você conseguir que as pessoas mudem esse comportamento, é isso que você realmente quer. Ele escreveu um pequeno livro sobre isso, recomendando em 21 pontos como mudar seu comportamento. Lutero viu que nosso problema é muito mais profundo, não é que eu apenas precise mudar meu comportamento, é meu coração, que impulsiona meu comportamento, é ele que precisa ser transformado. Não é que eu simplesmente precise mudar meus hábitos, mas meus desejos e inclinações precisam mudar.
Meu problema como pecador é que eu naturalmente amo outras coisas em vez de amar a Deus. É assim que Paulo define os pecadores em 1 Timóteo: “amantes de si mesmos, amantes do dinheiro”, em vez de amarem a Deus. Lutero viu que eles precisam ouvir a graça e a glória de Cristo, para que eles não apenas visem mudar seu comportamento, mas também comecem a amar mais a Jesus do que seus próprios pecados, e se afastem livremente desse pecado, querendo mais a Deus. A Reforma mudou o objetivo da pregação para algo mais profundo, indo pelo coração e não apenas o comportamento, procurando produzir um amor maior por Cristo, maior do que por qualquer outra coisa. O efeito da Reforma foi totalmente transformador, reformando acima de tudo, as pessoas em um nível muito mais profundo.
FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO EVANGELICAL FOCUS