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Dez coisas que aprendi com o sofrimento

Jean Francesco – O sofrimento pode ser vivido à luz da esperança. É a esperança que nos deixa em pé dia após dia: “tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8.18)

sofrimento[1](1) A vida é um verdadeiro zigue-zague, como uma montanha russa. Oscar Wilde afirmou em um de seus poemas, Loucos e Santos: “normalidade é uma ilusão imbecil e estéril”. A conclusão do poeta é que não existe “vida normal”, a vida é sempre um convite ao movimento. Em outras palavras, nossa vida é exclusivamente um trailer, um curta-metragem, quem sabe uma breve sinopse e não somos nós os diretores. Não estamos no controle de nada. Quando paramos para compreender essa realidade chegamos a uma conclusão inegável: a vida é frágil o tempo todo. Jamais poderemos calcular com certeza se acordaremos melhor na manhã do dia seguinte. Concluí isso depois de um cálculo renal imprevisto.

(2) A dor distorce, de maneira brutal, a forma como enxergamos a nós mesmos. Nos momentos de dor desconhecemos quem somos, pois saímos totalmente do controle. Como Jó, ficamos desolados, quebrados, em pânico e, por certo tempo, sem perspectivas de futuro. A dor tem esta capacidade de nos colocar na parede e empurrar para as perguntas existenciais: “quem sou eu? por que isso está acontecendo comigo? qual é o sentido da vida?”. Depois do sofrimento, nenhuma identidade é mais a mesma.

(3) O fanatismo religioso tenta fugir e/ou mascarar o sofrimento. Em alguns círculos religiosos não é aceita uma fé que sofre. Exato, uma fé que não pode lamentar, uma fé que não pode duvidar, uma fé sem tragédias, uma fé sem tristeza, uma fé sem conflitos; em outras palavras, uma fé apenas de vitórias. Fé demais assim não cheira bem, cheguei a conclusão que uma fé que não encara a dor como uma coisa inevitável é uma grande alucinação — para não dizer enganação.

(4) A dor nos tira de nossa zona de conforto. O sofrimento também nos move para a vida com uma intensidade inacreditável. É como aquela volição sequiosa que me faz correr atrás de água. Corremos atrás de algo porque isso nos falta. A ausência de amor me faz correr atrás de um par. A fome por comida me faz trabalhar ou até mesmo roubar para comer. A ausência de sentido me faz correr atrás de melhores explicações, respostas e filosofias do viver. Nós corremos atrás de médicos quando nos falta saúde – ou, na maioria das vezes quando estamos à beira da morte. Corremos até a poesia quando nos faltam palavras. Corremos até o banco quando sentimos falta de dinheiro. E da mesma forma nós corremos até Deus quando a nossa humanidade não dá conta. Não é diferente com a dor: corremos para a cura porque estamos doentes.

(5) A fé cristã é uma caminhada que abre espaço para quem tem problemas. “Quem foi que te disse que a vida é um mar de rosas? Rosas têm espinhos e pedras no caminho”, já dizia o músico João Alexandre. A Igreja é a comunidade onde os imperfeitos são bem-vindos, aceitos, ouvidos; que choram e são consolados. É no meio dos meus irmãos e irmãs que eu sempre chego à conclusão que a vida continua apesar da dor. Sem dúvidas saúde emocional não significa ausência de problemas, mas aprender que é possível lidar com eles sem que sejam o centro das nossas atenções.

(6) O fator de causa e efeito ou a lógica da retribuição são verdadeiros, mas nem sempre. Muitas coisas dão errado em nossa vida como retribuição de nossas escolhas. É a lógica simples de “quem faz o errado se dá mal”. Pessoas sofrem no casamento por serem apressadas na escolha do cônjuge; outros sofrem doenças por não cuidarem do corpo; amigos perdem dinheiro por se meterem em maus negócios e assim por diante. No entanto, o sofrimento é em muitos casos uma pergunta sem resposta. Fazemos tudo certinho, dá tudo errado e a raiva toma conta da gente. Para variar, na vida as vezes sofremos por justamente fazemos escolhas certas — ser cristão é uma ótima ilustração disso.

(7) A prosperidade causa na alma doenças que a adversidade jamais causará. Quem não curte momentos de conforto, fartura, festa e prosperidade? Todos, mas especialmente as tragédias nos ensinam, de forma totalmente nova, que temos de valorizar e celebrar a vida. Nosso Deus é especialista em trazer algo de bom a partir do monte de escombros. É do inverno que se abre a primavera, é da noite que nasce o Sol, é quando o milho passa pelo fogo que sai a pipoca. Muitos sorrisos para serem belos e autênticos precisam passar primeiro pelo tossir das lágrimas. Tragédias reúnem nações, vitórias isolam vencedores.

(8) Amigos e pessoas que amamos ao nosso lado fazem parecer que a dor é apenas um detalhe. Talvez não exista maneira melhor de ajudar pessoas vivendo com crises relacionais do que simplesmente estar ao lado, participando de seu sofrimento. Todos nós estamos sujeitos a crises relacionais, desentendimentos, mágoas, decepção e traição. Todos nós passamos por processos de perda. O mais interessante é que para confortar pessoas não precisamos abrir a boca, antes, falemos com os nossos olhos e com a nossa presença. O segredo é acolher. Deus foi sábio na criação: ele nos deu dois olhos, duas orelhas e uma só boca, o que ele quer nos ensinar? “Ame com os olhos e com seus ouvidos, só depois te direi o que falar.”

(9) A dor nos leva direto para Deus. Questionar Deus de sua suposta ausência, expressar nossa dor diante de seus ouvidos e vomitar nossas tristezas na presença dele não o ofende, pelo contrário, pode ser o início da nossa cura. Os 73 salmos de lamento são um ótimo exemplo disso, neles estão escritas todas as emoções da nossa vida, do riso hilário à angústia infernal e, em todos os momentos, Deus nos ouve atentamente. Certamente a dor nos faz correr para a pessoa certa, Deus, mesmo começando com as perguntas erradas. Eu te garanto que é possível experimentar mais de Deus durante a crua realidade do sofrimento.

Sim, podemos ter certeza: Deus existe e cuida de nós. Aliás, ele é o melhor psicólogo em atividade: ele te ouve, te responde e ainda não cobra pelo serviço prestado. Não tenhamos medo de levar nossas inquietações diante de Deus, toda dor precisa de um desabafo, e Deus sente alegria quando escuta as nossas orações (Provérbios 15.8). É através da oração que Deus leva o ser humano do sofrimento à adoração.

(10) O sofrimento pode ser vivido à luz da esperança. É a esperança que nos deixa em pé dia após dia: “tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8.18). Eu sofro sabendo que toda minha dor uma dia vai terminar. Eu creio em Jesus e é por isso que para mim a morte é só o começo, pois ele venceu a dor, o luto, as lágrimas, a depressão, a tristeza e a morte! Minha firme certeza é que Jesus irá restaurar esse mundo da sua corrupção e caos. Sei que irei morrer, chorar e sofrer, mas a morte e a dor já são inimigas vencidas pela fé. É isso que o mundo inteiro precisa acreditar para viver. É isso o que nós aguardamos enquanto vivemos em meio à dor, o momento em que Jesus retornará, julgará os céus e a terra, criando novos céus e nova terra, enchendo-a com a glória de Deus, “como as águas cobrem o mar” (Isaías 11.9).

E quando, enfim, chegar o dia em que o veremos face a face, Jesus “enxugará dos nossos olhos toda lágrima e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Apocalipse 21.4). ‪#‎10Coisas‬ ‪#‎Sofrimento‬

 

Fonte: IBB News / Jean Francesco

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